sexta-feira, 8 de abril de 2016


Felicidade
Felicidade. Queria ouvi-la, vê-la.
Para mim, felicidade não é apenas a ausência da tristeza, é muito mais que isso. É quando a criança, ao tirar a peruca de seu avô e ver sua careca, abre aquele imenso sorriso. Ou o menino que escancara um grande orgulho ao ser vacinado sem chorar nenhuma gota sequer. Também tem a garota que demonstra timidamente uma grande satisfação quando percebem que cortou seu cabelo em 2 cm.
Praia, sinônimo de felicidade. Se tem algo que sobressai a todos os exemplos de felicidade que citei, é a praia. Seu silêncio grita, maré que sobe, maré que desce, felicidade ao extremo. Lugar onde não entram problemas, onde tudo se esquece, seu trabalho, sua tristeza, suas loucuras, tudo é esquecido, como se existisse uma barreira, um sensor de problemas como os de aeroportos que bloqueiam explosivos e metais. É Assim que me sinto quando vejo a linha que separa o mar do céu.
Um menino me observa. Sentado no sofá oposto ao meu, numa linha reta onde nossos olhares se cruzam. Ele me observa, e me observa novamente. Um olhar fixo, e atencioso, passando seu olho por todo meu corpo, dos pés à cabeça, sem perder nem sequer um detalhe. Não apenas me observa, mas também anota sem parar as informações em seu caderno de couro preto, pequeno, liso. Gosto de seu caderno, mas me incomoda um pouco a situação, pois nem sequer sei para quais fins usará essas informações.
Um homem pequeno, com sapato de couro preto, uma meia comprida marrom e uma calça jeans bastante esbranquiçada e rasgada na área dos joelhos. Uma leve elevação na barriga. Uma blusa cinza e uma jaqueta também cinza com listras pretas, algo meio hipnotizante. Sua cara tem um formato meio retangular, com bastante nariz, e algumas espinhas concentradas na bochecha. Cabelo curto e preto, orelhas e olheiras. Com calor, e um pouco cansado, espera pacientemente sua comida chegar. Está há uma meia hora esperando, o Sesc está cheio, gente por toda parte. Usa óculos redondo e pequeno, e parece estar um pouco ruim, pois bota o óculos na ponta do nariz e faz um certo esforço para enxergar as coisas. Aparenta uns 37 anos, tem pele branca e sem músculos definidos em seus braços. Tem uma bolsa marrom retrô, meio aberta. Senta com as pernas cruzadas, com uma postura meio largada.
Por um momento ele para de me descrever em seu caderno. Olha para mim fixamente, eu olho para ele, logo ele vira a cara e finge prestar atenção em outra coisa. Deve pensar que ainda não percebi sua perseguição a minha pessoa, infelizmente está enganado. Ele pega seu celular e o desbloqueia. Levanta sua cabeça e olha para sua volta. Olho rápido para baixo, ele não percebe que eu o observo. Ele levanta um pouco seu celular em minha direção, e por fim tira uma, duas, três fotos de minha pessoa.
Quando chega um homem meio gordo, nem alto nem baixo:
- Filho! Terminou? Já podemos ir?
- Sim pai – sussurra o menino. E logo sorri – Obrigado por me esperar. Agora vamos, depois te mostro como ficou. – E dá um beijo na bochecha de seu pai.
Felicidade. Acabo de ouvi-la, vê-la.



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